Vamos falar de uma frase que aparece no capítulo 22 do livro Familia Romana, da série de livros didáticos “Lingua Latina Per Se Illustrata”. A frase da qual falaremos demonstra um pouco dos recursos que possuímos no latim para expressar relações e formas gramaticais de maneira bastante sintética. Vejamos!
Dessa forma, pode ser um pouco difícil entender o uso da língua latina aos falantes de português, quando acontecem algumas situações como essa:
“Id facilius est dictu quam factu”
Para começarmos essa lição de latim, deixo de cara a tradução da frase:
“Isto é mais fácil de dizer do que fazer”
Agora deve parecer muito mais simples ler o que está em latim. Quase tudo tem os mesmos radicais! Ao menos os verbos, sim! A frase também nos mostra a semelhança do latim com o português.
Contudo, vamos entender como a língua latina expressou esta sentença. Por meio de quais dos seus mecanismos expressou?
Antes dos mecanismos, vamos às relações entre as palavras latinas e portuguesas, com termo e significado: “Id” é “Isto”; “facilius”, “mais fácil”; “est”, “é”; “dictu”, “de dizer”; “quam”, “do que”; “factu”, “de fazer”.
Visto isso, vamos ao primeiro mecanismo: do grau comparativo.
Ao invés de usar-se de um verbo com um advérbio “mais” ou “menos” para expressar uma comparação, a língua latina transforma diretamente a palavra: “Id facilius est”: isto é mais fácil.
Notem a diferença entre latim e português aqui. “Facilius” expressa o grau comparativo, já em português não é o que acontece! Em português há um advérbio (mais, menos) associado ao verbo “est” na frase. Como seria o adjetivo sem a comparação? O dizemos no “grau positivo”! Seria: facilis, em português “fácil”. De “facilis” teremos “facilius” ou “facilior”. São as duas formas para o comparativo a depender do gênero da palavra!
Por fim, teremos outro mecanismo muito interessante, que é o uso do supino. “Supino” que significa “dobrado” – no mesmo sentido que se chama o exercício físico “supino” por causa de sua posição – é uma forma que parte dos verbos. Na frase nos aparece “dictu” e “factu”, são formas no supino. Essa flexão das palavras latinas permite colocar os verbos no supino juntos dos adjetivos. Aqui foi junto de um adjetivo, que inclusive já estava no grau comparativo “facilius dictu”, “mais fácil de dizer” ou “facilius factu”, “mais fácil de fazer”.
Os dois verbos no infinitivo são “dicere” e “facere”, aqui, no supino, ficam “dictu”, “factu”, no sentido de “de dizer”, “de fazer”.
Ainda de entre eles teremos o advérbio de comparação “quam”, que é usado para comparar, mas não confundir com a atribuição de grau, porque por meio dele podemos dizer que algo é “tanto quanto”, “tam quam”.
Agora, sim, é possível ler a frase compreendendo as classes e as flexões de cada palavra: Id (pronome) facilius (adjetivo comparativo) est (verbo de ligação) dictu (verbo no supino) quam (advérbio comparativo) factu (verbo no supino).
Devido a esses mecanismos, o latim nos dá maior liberdade de construção de sentenças com verbos. Os verbos transformam-se em particípio, supinos, declinam, flexionando em caso quando se tornam gerúndio. Certamente perdemos um pouco dessa versatilidade das flexões na língua portuguesa, colocando no lugar disso, advérbios, preposições, locuções etc.
Espero que tenham percebido um pouco dessas diferenças e aprendido o que é supino e os graus comparativos!